Com esta narrativa visual trago em memória a importância das benzedeiras e curandeiras, que com seus poderes e desejos de cura levam o cuidado, a fé, o respeito à terra e suas divindades. Personagens cruciais na formação de um Brasil cuja cultura se mantém viva através da oralidade e por isso, infelizmente, também sofrem com o esmaecer do tempo. “Quebranto” é o registro de uma lembrança pessoal, desenvolvida do início de março de 2020 com muito carinho e enorme respeito a todas essas pessoas que marcam presença na vida de muitos brasileiros. 
O cenário era Itapevi, especificamente a região da COHAB II, lugar para onde minha família se mudou quando eu tinha 4 ou 5 anos de idade.  Me lembro das ruas cobertas de uma constante cortina de poeira rosada que os carros e cavalos levantavam do chão batido de terra. A vegetação, assim como as poucas construções assentavam a poeira. Era quase que uma coisa só...
As mulheres daquele local tinham o hábito de levar seus filhos de tempos em tempos à rezadeiras ou benzedeiras quando percebiam neles algo de errado, mas não só, essas visitas se davam também como busca de proteção, de modo a sempre estarem presentes e servirem de alicerce para suas famílias.
Em pequenos grupos eram organizadas as caminhadas até a "área rural", onde uma das senhoras benzedeiras vivia. Eu estive lá por vezes, sendo benzido ou acompanhando benzeduras. Era uma casa pequena e simples, muitíssimo diferente nas configurações do que eu já conhecia. A lembrança é marcada por um forte cheiro de lenha e seiva de ervas.
"É que o bom também pode ser ruim às vezes. Um olhar de admiração velado de inveja, sentimentos ruins e abstratos são capazes de murchar a mais bela flor". O reflexo disso é a falta de vigor, a moleza, o quebrante". Para quebrá-lo, a "vó" fazia fumaça e segurava a arruda, pedia pra ninguém ficar na porta enquanto era feita a reza, pois era por lá que os espíritos ruins saiam.
Depois da reza, novos caminhos. Pedia-se benção à vó e seguia-se a vida. Na volta para casa as mulheres falavam dos benefícios da visita, nós enquanto crianças tentávamos interpretar. Eram dias de sol e azul intenso, pouca sombra e muito verde. Era uma infância simples de muito valor, moeda do tempo, de uma lembrança rica de histórias e significados.
Quebranto
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